De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Edward d’Abreu

Edward d’Abreu

Edward Luiz Ayres d’Abreu

Compositor, musicólogo, editor e programador cultural, nasceu em Durban, África do Sul, em 1989.

Iniciou os estudos de música em Portugal aos cinco anos de idade. Estudou no Conservatório Nacional com Ana Sousa Lima e Rui Pinheiro (Piano), Eli Camargo Júnior e Daniel Schvetz (Composição). Frequentou os cursos de Arquitetura e de História da Arte e concluiu a Licenciatura em Composição com a mais alta classificação no exame final na Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou com Sérgio Azevedo e António Pinho Vargas. Em programa Erasmus frequentou o Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris, tendo trabalhado com Gérard Pesson (Composição), Yan Maresz, Yann Geslin e Luis Naón (Música electrónica), Alain Mabit e Claude Ledoux (Análise). Em masterclasses ou em encontros académicos contactou com Emmanuel Nunes, João Pedro Oliveira e Marc-André Dalbavie, entre outros. Frequentou um Curso de Verão no Conservatório de Moscovo, onde trabalhou com o compositor Faradzh Karaev, e um Curso de Gamelão de Java no Museu Oriente, em Lisboa.

As suas obras foram já interpretadas pela Orquestra Gulbenkian (Inscriptions (X), sob a direção de Luca Francesconi), Orquestra Metropolitana de Lisboa (Sinfonietta per orchestra classica, sob a direcção de Michael Zilm — Encomenda OML, para o 23.º aniversário da orquestra) e Grupo de Música Contemporânea de Lisboa (Parque de estrelas, vento e memórias, sob a direção de Pedro Neves). Recebeu encomendas da Orquestra Metropolitana de Lisboa, Rádio e Televisão de Portugal, Quarteto de Guitarras de Paris e Síntese — Grupo de Música Contemporânea. O seu poema sinfónico Pálido pálio lunar… foi estreado em 2017 pela Banda Sinfónica Portuguesa, sob a direção de Luís Carvalho, e distinguido com uma Menção Honrosa no V Concurso Nacional de Composição. Foi um dos vencedores do Concurso para Compositores Emergentes no âmbito do Festival CRIASONS, preparando neste momento a composição de uma nova obra a estrear em 2019.

Escreveu três óperas, a última delas, Manucure, estreada em 2012 no Teatro Nacional de São Carlos sob a direção de João Paulo Santos e a encenação de Luís Miguel Cintra. Em 2016 participou, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, num workshop de criação operática orientado por Willem Bruls na Académie du Festival d’Aix-en-Provence, evento promovido pela ENOA, European Network of Opera Academies. Concebeu os libretti de duas óperas com música de Daniel Moreira: Cai uma rosa… — estreada nos Teatros Municipais do Porto e de Almada em 2015 — e Ninguém & Todo-o-Mundo — com estreia prevista em 2018. É mestre em Ciências Musicais — Musicologia Histórica pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo defendido a dissertação “Ruy Coelho (1889-1986): o compositor da geração d’Orpheu” sob orientação de Paulo Ferreira de Castro. É membro do CESEM, Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. O seu trabalho “‘…le Désir est tout…’ – Obras vocais de câmara de Ruy Coelho à luz do simbolismo fin-de-siècle” foi distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra 2017 da Universidade da Califórnia. Actualmente é doutorando em Ciências Musicais, tendo sido neste contexto bolseiro da FCT, Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Concebeu e dirigiu artisticamente diversos projetos musicais e multidisciplinares, destacando-se os festivais Viagens pelo som e pela imagem, apresentados anualmente na Fonoteca Municipal de Lisboa entre 2008 e 2011. É membro fundador e Presidente da Direção do MPMP, Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa, associação criada em 2009, no âmbito da qual tem concebido e coordenado diversos projetos editoriais e de programação musical, alguns deles distinguidos no contexto de apoios pontuais e bienais do Ministério da Cultura / DgArtes. Dirigiu as digressões do MPMP ao Brasil em 2014 e 2016, e o projeto operático O cavaleiro das mãos irresistíveis, resultado do cruzamento de investigação musicológica com criação contemporânea, apresentado pelo Ensemble MPMP, com encenação de António Durães e direcção musical de Jan Wierzba, no Teatro Municipal do Porto e no Teatro Municipal de Almada em 2015. No âmbito do MPMP foi ainda diretor-geral da revista Glosas, dedicada à divulgação da música de tradição erudita ocidental nos países de língua portuguesa, desde a sua fundação até ao seu 15.º número, publicado em 2016.

Como orador tem colaborado, em aulas, cursos ou concertos comentados, com a Fundação Calouste Gulbenkian, Teatro Nacional de São Carlos e Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. É Sócio Correspondente do Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de Amanhã. Música para construir futuro.

B

de Brincar. Se demasiado séria, a música perde som.

C

de Curiosidade. Compor. Criar. Sem invenção tornamo-nos autómatos.

D

de Desafio. Se demasiado fácil, a música perde longitude.

E

de Egos: há que escrutiná-los, não vá a nossa arte redundar em aparência.

F

de Fundamento, fundação. Música para cimentar desde cedo a nossa personalidade cívica.

G

de Gil Vicente. Música-teatro. Faz-nos falta, com aquela perspicácia e jovialidade.

H

de Hoje. Música para servir a contemporaneidade. Não vamos tocar para sarcófagos, não é verdade?

I

de Interdisciplinaridade. Não existe música absoluta. Não há música que não contenha nela tudo quanto a rodeie. Isto assumido, desenvolvamo-lo sem pudor.

J

de Jaques-Dalcroze. Missão sempre por continuar e aprofundar.

K

de Kawai. Memórias tragicómicas de quando era aluno de piano do Conservatório…

L

de Lusofonia. Escutemo-nos, ainda por cima porque é tão fácil comunicar na mesma língua… Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Almeida Prado: ouvimo-los?

M

de Magia. Propriedade imprescindível do facto musical: procuremo-la quotidianamente.

N

de (al) niente. É uma expressão musical fascinante. Quando Ivo Salvini, em La voce della luna de Fellini, contempla maravilhado uma fogueira, pergunta-se para onde irão as faíscas quando se extinguem, para logo concluir que são como música: ninguém sabe para onde vai quando termina... Gostaria que pensássemos mais nesta imagem ao saborear o facto musical, que nos contivéssemos antes e depois da execução de uma obra… e sobretudo que se saboreasse o aparente vazio como corpo sonoro, as pausas entre andamentos, as respirações subtis, em vez do corriqueiro aproveitamento desses segundos para tossir, folhear partituras, esboçar sapateados, verificar relógios ou desembrulhar rebuçados..

O

de Orquestrar. Exercício maravilhoso! Será a orquestra o mais belo dos instrumentos? De uma forma ou de outra, devíamos todos, nalgum momento da vida, passar pelo desafio intelectual de colorir orquestralmente alguma ideia musical.

P

de Paz. Não necessariamente o desarmamento do mundo, mas a substituição das armas tradicionais por instrumentos de música. Que tal?

Q

de Qualidade. Aquilo que caracteriza uma coisa. Caracterizar. Dotar, atribuir significação. Pôr sobre cada gesto sonoro uma alma inteira.

R

de Ruy Coelho. Compositor a quem dediquei o mestrado e, parcialmente, o doutoramento. Exemplo da imensidão de património por inventariar, catalogar, interpretar, gravar, conhecer de facto, sob pena de continuarmos ausentes de nós próprios. Não há como valorizar a prática musical em Portugal se tão flagrantemente se desprezam os músicos das gerações anteriores à nossa, se tão enraizadamente se institui e confirma a ideia de que vivemos exclusivamente em torno dos cânones propagados a partir de dois ou três centros culturais hegemonicamente centro-europeus..

S

de Silêncio. De novo La voce della luna de Fellini: se todos fizéssemos um pouco de silêncio, talvez alguma coisa pudéssemos compreender...

T

de Tomás Borba. De novo um nome por conhecer, este fundamental para a história da educação musical em Portugal, autor de uma obra muito para aplaudir e para desenvolver. Como Jaques-Dalcroze!

U

de Universal: porque a música o não é. Nem todas as culturas entendem por “música” a mesma coisa, nem todos gostam de música. Uma sinfonia de Mahler, um assobio, o trovejar tem para cada pessoa, colectividade, sociedade, diferentes significações. Desfeito o mito romântico, é claro que a música pode ser, como qualquer sistema comunicativo, um veículo expressivo da maior importância. Mais: passado e presente trazem consigo um património que, acarinhado, não pode senão contribuir para uma humanidade fortalecida.

V

de Verdade: outro delírio. Há verdade em música? Em termos absolutos dispenso a reflexão. Mas em termos simbólicos não seria má ideia incentivar o aluno a ouvir mais atentamente aquilo que ele poderá ter para contar, incentivá-lo a improvisar, a tanger por si e para si. Ensiná-lo a interpretar uma obra segundo preceitos “historicamente informados”, mas fomentar também a desconstrução crítica desses preceitos e a criação de novas alternativas. Não havendo verdade, haverá pelo menos um conhecimento mais profundo de si próprio e do que pode ser, afinal, a própria música como arte.

W

de Wagner, Virgínia Wagner. Conhecem? Eu também não, mas aparece algures referenciada num dicionário de compositoras, e é portuguesa. Compôs música interessante? É possível. E que outras compositoras conhecemos? É tempo de questionar os cânones também no que tange à prevalência historicamente ostensiva do sexo masculino…

X

de Xérox. Ou, como corrente em Portugal, fotocópia. Um drama que frustra enormemente qualquer tentativa de edição musical física ou digital nos nossos dias. Não importa muito a criação de leis: educar em música deveria privilegiar esta consciencialização como missão cívica quotidiana.

Y

de Youtube. Instrumento de grande utilidade. Meio e não fim. Se assim fosse aproveitado…

Z

de Zelo. Empenho solícito em procurar o bem próprio ou alheio. Palavra-síntese de quanto escrevi aqui.

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Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

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